quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Diário do Canavial

Diário do Canavial


Por Wagner de Souza



 Concluí, hontem, atenta leitura de "Sangue no 311" de Silbert Santos Lemos. É obra de valor desigual. Li-o para apurar o benefício de um melhor entendimento dos infinitos casuísmos que concorrem para o trabalho policial. E neste quesito, cumpre o que promete o livro de Lemos. Nelle assistimos a exposição dos tipos que, então, compunham os quadros da polícia fluminense, especialmente em Duque de Caxias. Comissários, Sub-Delegados, Investigadores,  e inda o elenco sórdido dos "Bas-fonds", nelle estão conscritos e sumariados para a ilustração do triste e repugnante aspecto da segurança pública nos idos de 1950. Toda uma fauna, selvagem e bestial, de vagabundos, vadios, pistoleiros, prostitutas, cáftens, pungistas, etc, bacilava o organismo enfermo de D. de Caxias n´aquelles idos annos. A Polícia, incumbida de aplicar-lhe o bálsamo da Lei, mais infeccionava a ferida, mercê da debilidade moral dos seus agentes, do archaboiço instável e corrupto das repartições que para dar satisfatório curso aos inquéritos e fim às investigações via-se às voltas co´a cumplicidade venal dos Alcaguetes. Tudo isto lê-se em Santos Lemos. Seu mérito é o de nos oferecer um nítido e vívido quadro destas e inda d´outras circunstâncias da chrônica polícial em Caxias.

Não obstante, o livro vem eivado de gralhas e de evidentes lapsos na revisão que, sem comprometer toda a leitura ou desdourar-lhe o acerto das descrições, é inda um inconveniente. Quanto ao mérito literário, não o negando é preciso delimitar-lhe o alcance. Em "Sangue no 311" não tem Santos Lemos um seguro domínio das imagens, que as traz com hesitante gosto e deficiente atilamento, conquanto, aí, se achem belos e sugestivos quadros. Seu estilo é tímido, mediocre. Falta-lhe envergadura para os grandes vôos. Tem da língua uma authêntica compreensão, isto vê-se. Mas não a traz à serviço do Grande Estilo. É escriptor, disto não há dúvida. Mas é por isto mesmo que mais temos esperado de sua penna. É o que anseio da leitura de seus outros livros. 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Diário do Canavial

 Diário do Canavial 
 06 de Agosto






A Chrônica de uma idéia mais d´uma vez tem sido escripta. Com muito mais razões a de uma boa idéia. É assim que conhecemos os manuscriptos de muitas obras primas, como a testemunhar-lhes a gestação. Algum tanto se tem passado com estes "Ecos do Canavial". Foi p´lo dia 26 de junho que falei ao Mansera nos prolegômenos destes trabalhos. Lembra-me que hesitei em fazer-lhe esta confissão. Receava que o obstasse suas infinitas obrigações profissionais, ou antes, que renunciasse à idéia para apenas dedicar-se às suas próprias criações literárias. Pois bem, incerto embora, disse-lhe que algo me estava a fermentar no crânio. Disse-lhe que vinha de ler, desde a algumas semanas, o notável estudo do Sr. José Claudio de Souza Alves e que muito me impressionava algumas de suas páginas em que se liam curiosos capítulos da chrônica policial da Baixada Fluminense. É vezo seu ouvir-me pacientemente, inda quando o assumpto pouco entende co´as suas opiniões. Intruduzi-o, para fazer-lhe ver o que apenas eu via, no curso de uma das histórias de que se há de compôr os "Ecos do Canavial". Contei-lhe, sumariando-o, o picaresco episódio do Roncador. Elle ouviu-me com uma expressão de condescendência que logo se demudava n´uma enthusiástica sympatia. Instantes depois folgavamos co´os infinitos cambiantes da idéia, com suas múltiplas possibilidades narrativas, co´o pitoresco de suas scenas, co´a feitura artística que importava imprimir às paginas para dar-lhes o timbre d´uma excelência que ambos, elle e eu, perseguimos. Concluímos, pois, que redigiríamos aos "Ecos do Canavial", livro em que reuniríamos as páginas inspiradas à chrônica da violência no Recôncavo da Guanabara, e que o faríamos o mais breve possível. 
 A isto cumpria acrescentar o indispensável veículo d´um Blog em que pudéssemos consignar todo o curso desta empresa. É então, neste momento, que ocorreu-nos convidar ao Pedro Garcia. Depois de fazer-lhe os mesmos prolegômenos que fiz ao Mansera, e mesmo sob a inspiração d´este, expusemos ao Garcia, já no dia 28 de junho, nossa ambição de dar à luz um livro que tivesse por título "Ecos do Canavial". O Pedro, em que temos um dedicado colaborador, acedeu imediatamente co´o propósito de tomar parte nos trabalhos. De imediato quis encarregar-se da concepção visual da obra, e de toda a publicidade que ela demandava. No que estavamos todos de acordo. Neste instante, reunidos os elementos indispensáveis, demos início ao prazo oficial para a conclusão do livro: pôs-se a trabalhar o Pedro, pusêmo-nos Rogério e eu a trabalhar.