Diário do Canavial
Por Wagner de Souza
Concluí, hontem, atenta leitura de "Sangue no 311" de Silbert Santos
Lemos. É obra de valor desigual. Li-o para apurar o benefício de um
melhor entendimento dos infinitos casuísmos que concorrem para o
trabalho policial. E neste quesito, cumpre o que promete o livro de
Lemos. Nelle assistimos a exposição dos tipos que, então, compunham os
quadros da polícia fluminense, especialmente em Duque de Caxias.
Comissários, Sub-Delegados, Investigadores, e inda o elenco
sórdido dos "Bas-fonds", nelle estão conscritos e sumariados para a
ilustração do triste e repugnante aspecto da segurança pública nos idos
de 1950. Toda uma fauna, selvagem e bestial, de vagabundos, vadios,
pistoleiros, prostitutas, cáftens, pungistas, etc, bacilava o organismo
enfermo de D. de Caxias n´aquelles idos annos. A Polícia, incumbida de
aplicar-lhe o bálsamo da Lei, mais infeccionava a ferida, mercê da
debilidade moral dos seus agentes, do archaboiço instável e corrupto das
repartições que para dar satisfatório curso aos inquéritos e fim às
investigações via-se às voltas co´a cumplicidade venal dos Alcaguetes.
Tudo isto lê-se em Santos Lemos. Seu mérito é o de nos oferecer um
nítido e vívido quadro destas e inda d´outras circunstâncias da chrônica
polícial em Caxias.
Não obstante, o livro vem eivado de gralhas e de evidentes lapsos na revisão que, sem comprometer toda a leitura ou desdourar-lhe o acerto das descrições, é inda um inconveniente. Quanto ao mérito literário, não o negando é preciso delimitar-lhe o alcance. Em "Sangue no 311" não tem Santos Lemos um seguro domínio das imagens, que as traz com hesitante gosto e deficiente atilamento, conquanto, aí, se achem belos e sugestivos quadros. Seu estilo é tímido, mediocre. Falta-lhe envergadura para os grandes vôos. Tem da língua uma authêntica compreensão, isto vê-se. Mas não a traz à serviço do Grande Estilo. É escriptor, disto não há dúvida. Mas é por isto mesmo que mais temos esperado de sua penna. É o que anseio da leitura de seus outros livros.